terça-feira, 7 de julho de 2015

O Clube - Conto em andamento

O Clube

Corria o ano de 1940, os nazistas lançavam uma grande ofensiva aérea sobre a Inglaterra, os americanos elegiam pela terceira vez Frank Delano Roosevelt e os comunistas resolviam suas desavenças internas no México com o assassinato de Liev Davidovicht, conhecido como Trotsky. Modernos aviões de caça, voto democrático e uma picareta de alpinismo cravada no crânio do revolucionário russo escreviam a história mundial no hemisfério norte.
Enquanto isto, as águas do Oceano Atlântico banhavam a costa do litoral sul do Brasil com a mesma regularidade de milhões de anos. Nada de novo acontecia por essas bandas, a não ser a promessa de mais um exuberante verão nas praias de Santa Catarina.
Era o mês de outubro e a água do mar ainda estava fria. O barquinho desafiava bravamente a imensidão oceânica com seu monótono “toc toc” produzido pelo motor a diesel. 


Havia neblina naquela manhã e os pensamentos de Bruno vagueavam com a bruma, indo e vindo do continente para a incógnita ilha, à qual se dirigiam, sempre pousando sobre a jovem junto à amurada.
Bonita e com porte, avaliou o rapaz. Trajava um vestido de golas amplas e ombreiras, com estampas coloridas, conforme exigia o clima tropical. Um chapéu delicado, adornado sem exagero, coroava uma cabeleira negra que se esparramava em ondas e cachos pelos ombros. Não podia distinguir a cor dos olhos, mas teve e impressão que eram claros, contratando com as sobrancelhas de negror semelhante ao cabelo. Seus lábios delicados destacavam-se no tom rubro do batom. O vestido descia para a cintura onde era apanhado por um cinto da mesma tonalidade tonalidade, conferindo um toque militar, tão disseminado nestes tempos de guerra. Avançava não muito abaixo da linha dos joelhos, reafirmando o corte e a mohda entre os trópicos. Sapatos fechados com laços discretos sobre o peito do pé, correspondiam em cor e material à peça que lhe cingia o corpo. As luvas contradiziam o conjunto. Não por destoarem, ao contrario, eram claras e de fino acabamento. Combinavam e valorizavam o todo. Seu uso é que intrigava. Não era costume da mulher brasileira, não ao menos àquela hora. Este adereço, somado à piteira que ela trazia entre os dedos, cuja brasa do cigarro se iluminava a cada tragada, indicavam que aquela jovem não deveria ser das redondezas. Talvez nem mesmo fosse brasileira.
Bruno esboçou várias vezes a iniciativa de ir ter com ela, mas sua timidez e a aparente indiferença com que ela continuava a olhar o vazio do mar o desencorajaram. Teria, é certo, bom motivo para abordá-la, uma vez que eram os dois únicos passageiros. Qualquer comentário sobre a ilha, destino de ambos, seria acolhido como legítimo. Mesmo assim, Bruno conteve-se.

Volveu novamente os pensamentos para a névoa. A ilha, refletiu, deveria surgir a qualquer momento. Já estavam viajando fazia algum tempo. Ele não era um conhecedor profundo daquelas águas, mas tinha um forte impressão, pelos passeios que já fizera, que já haviam passado em muito as distâncias dos lugares habitados. Onde quer que fossem parar, suspeitava não estava sequer mapeado.

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