quinta-feira, 31 de março de 2016

Chegando a Stella Pax

Ilustração retratando o momento em que o grupo de Zalian finalmente chega à estação espacial mestra Stella Pax.
Softwares LightWave 3D; Photoshop.



segunda-feira, 21 de março de 2016

Alyena Poster

Ilustração Digital

Trabalho retratando a personagem principal do romance conforme é retratada nos capítulos iniciais. Feito no Photoshop em um iMac 27, processador i7 3.4GHz com 16 GB RAM.


Algumas etapas do trabalho








sexta-feira, 11 de março de 2016

Alyena II - Capítulo 4 - Demini


Capítulo 4 -  Demini


Como a cabana de Zalian, a de Demini também era incomum. Tinha todos os cômodos que se espera de uma cabana, e um a mais. Este excedente se projetava por uma segunda porta na cozinha através de um corredor com rampa de madeira, coberto para evitar a chuva. Para quem vinha da cozinha a impressão era realmente que se tratava de uma extensão da casa. Mas a impressão se dissipava ao encontrar o metal do piso e das paredes.
Era nada menos que o iate particular de Demetrius Korahner, o portentoso veículo inter-orbital que usaram para escapar da moribunda Stella Pax, que havia sido acoplado de modo rústico à habitação. Agora era um pássaro adormecido, que não voava mais, embora houvesse possibilidade de vôo graças a uma reserva de combustível. Mas esta não era suficiente para sair da atmosfera, no máximo cobriria uns dois mil quilômetros de distância no território, nada mais. Demini gostava de pensar nesta reserva como algo para uma emergência. A função principal da nave agora era servir aos moradores como dormitório, lugar para leitura e, principalmente, para uso do computador de bordo. Com uma bateria nuclear praticamente inesgotável em vista do baixo consumo e captadores de energia solar na fuselagem, o iate estava apto a gerar entretenimento e abrigo até aos netos de Demini.
Esta era justamente a preocupação maior da moça nos últimos tempos. Como poderia conjecturar netos se ainda não tinha filhos? Há cinco anos Demini tinha diante de si uma perspectiva de vida completamente diferente. Filhos estavam completamente fora dos planos. Tudo se encaminhava para que se tornasse uma irmã de caridade e passasse a servir a Deus junto com aquelas amáveis mulheres que a criaram. Este seria um destino muito bom para sua existência, pois encontraria pleno sentido no auxílio às pessoas necessitadas. Mas quando pusera seus talentos a serviço de Frei Eusébio no louco plano de atacar Stella Pax, acabara conhecendo Steno. E Zalian, e Nayra. Em sua aventura percebera que havia outros modos de ser útil à sociedade humana, mesmo não sendo tão sublimes quanto a doação total das freiras. Mas este caminho só seria completo se culminasse a contribuição maior, a geração de filhos. Ser mãe passara a fazer parte do seu ideal de realização pessoal. Mas lá se ia meia década e nem sinal de um bebê. Demini então dedicava horas de pesquisa pela Rede em busca de soluções para este problema. As irmãs lhe diziam que era para ter calma, que o mundo tinha acelerado tanto a vida das pessoas que agora a Natureza buscava o equilíbrio na demora. Demini tinha calma, mas também, determinação.
A Rede regenerava-se vigorosamente sem Stella Pax para a tutelar. É fato que após a derrota da estrela o sistema entrou em colapso, funcionando apenas no âmbito regional. Mas Demini ficou sabendo que alguém do outro lado do planeta conseguiu controlar um dos satélites secundários e reprogramou-o para administrar o tráfego de informações. Com isto restabeleceu o funcionamento da comunicação em escala mundial.
Demini então tomou conhecimento de diversas comunidades que floresciam ao redor do Globo. Compunham-se de bandos pulverizados que perambulavam lutando para sobreviver, mas que assim que perceberam a ausência da Estrela, começaram a convergir para formar aglomerações e depois cidades. Havia novamente esperança e perspectiva de um futuro mais promissor. Contudo, apesar do clima otimista, maioria também ressentia-se da falta de crescimento populacional e de outro problema comum a todos, a escassez de combustível. Como acontecia em Marônica, as reservas iam se esgotando. As fontes de combustíveis, postos de abastecimento e distribuidoras, eram exauridas rapidamente. E poucos lugares tinham a graça de contar com recursos hídricos tais como a sua região oferecia. “Se o plano de Tesla e Korahner tivesse dado certo, energia não seria problema”, pensou consigo, lembrando-se do que frei Eusébio contou. Se realmente o projeto houvesse sido bem sucedido, ou seja, se todo o sistema de satélites recebesse luz solar e convertesse em energia elétrica, transmitindo-a sem fio para a Terra, não haveria escassez nenhuma. Ao invés disto, por causa da belicosidade e da ganância, transformaram o complexo inteiro num conjunto de armas letais em grande escala.
Talvez Demini pudesse se dedicar a este outro problema. Talvez houvesse registros do plano original em algum servidor e algum gênio perdido por aí com capacidade de reiniciá-lo.
Outra peculiaridade de sua casa não ficava propriamente nela, mas ao redor: Um campo de pouso e um helicóptero estacionado. Mandara fazer o longo trecho aplainado a trator pois descobrira que a alguns quilômetros rumo ao leste, perto do mar, havia um velho aeroporto. Ela e o marido se embrenharam mato adentro até encontrarem-no. Lá jaziam algumas aeronaves envelhecidas, vários aviões de passageiros, mas estavam completamente degradados pelo tempo. Dentro dos hangares encontraram dois jatos executivos em condições razoáveis, um deles, Demini jurava poder fazer voar de novo. Entre os helicópteros havia um modelo Bell para oito passageiros que estava num compartimento bem isolado e lacrado com cadeados. Conseguiram arrombar as trancas e encontraram seus manuais. Ela os estudou e comparou com os diversos simuladores que possuía nos computadores em casa. Treinou neles até obter a segurança que precisava para a empreitada. Numa segunda expedição, com maior número de pessoas e combustível em boas condições, retiraram a máquina para o pátio e a jovem a colocou no ar. “Se Stella Pax ainda estivesse em funcionamento, teria me explodido na primeira virada do rotor”, pensou. Com habilidade levou a aeronave suavemente até Marônica, onde a pousou em seu quintal. Isto fora um grande avanço para o povoado emergente, haviam conquistado a supremacia aérea. Mas infelizmente o helicóptero cumpria agora função meramente decorativa no seu jardim. Os combustíveis rareavam e Zalian havia determinado que somente o utilizassem em caso de emergência.
Agora eram perto das cinco horas da tarde. A assembléia começava somente à oito, então havia bastante tempo. Demini dedicou-se a fazer uma das coisas que mais gostava: preparava uma fumegante xícara de chocolate quente para beber em frente ao computador. Steno havia descoberto esta delícia com ela a caminho de São Paulo, mas só a apreciava assim quente nos meses de inverno, “como pessoas normais o fariam” disse ele. Mas ela ignorava suas observações e consumia o chocolate como consumia as horas na frente da tela, com prazer.
Retirou a caneca do fogão e dirigiu-se para o túnel de troncos que dava para a espaçonave. Subiu a rampa de madeira que soltou um rangido sob seus pés. Logo o ranger dos passos foi substituído pelo som do metal. Estava no amplo compartimento para passageiros, cerca de seis metros por quatro. As paredes recurvadas abrigavam as seis escotilhas que davam para fora, três de cada lado. Durante o dia eram mantidas como janelas. À noite Demini gostava de acionar o recurso artístico que consistia em projetar várias reproduções de obras de arte num ciclo sucessivo. Ali desfilavam mestres da Idade Média, do Renascimento e de todos os movimentos artísticos posteriores. A qualidade da reprodução era espantosa, retratando até o volume das pinceladas. Para um observador desavisado pareceria estar diante do original.
A mesa central branca dominava o ambiente com seu design minimalista e extremamente elegante. Ao seu redor, quatro cadeiras igualmente bem desenhadas a guarneciam. Sobre o tampo, uma pequena Bobina de Tesla soltava seus raios luminosos, confinados em uma bola de cristal. À esquerda e ao fundo do recinto semi-cilíndrico, ficava uma porta no centro da parede. Dava para um segundo compartimento que continha uma escrivaninha e uma estante de livros que cobria-lhe a parede oposta. No meio desta parede de livros, uma porta levava ao último compartimento da popa, um dormitório confortável. Demini e Steno o ocupavam. À direita, rumo à proa, uma comporta aberta levava à cabine de comando. As luzes dos painéis de controle piscavam lá dentro. Esta porta de acesso conservava-se fechada e totalmente camuflada nos tempos de Alyena. Nem ela, nem ninguém jamais imaginaria, olhando somente por dentro, que aqueles espaços eram o habitáculo de uma nave inter-orbital. As fileiras de bancos escamoteáveis estavam recolhidas sob o piso, impossíveis de serem identificadas. Nada absolutamente poderia levantar suspeitas de qua havia uma passagem ali. “Este foi um golpe terrível para Alyena: descobrir muitos anos depois a existência de um veículo que poderia tê-la salvo da prisão em órbita, que estava o tempo todo ali”, refletiu a jovem.
Rumou para a direita e entrou na cabine iluminada por múltiplos pontos de luz colorida. “Como é difícil entrar aqui sem lembrar dela”, pensou. O interior da cabine era amplo e tinha formato ogival com largas janelas que vinham do centro agudo e abraçavam o espaço sobre painéis de instrumentos. Demini aproximou-se do assento em frente à tela do computador. Lá fora uma brisa balançava as árvores e fazia oscilar levemente as pás do rotor do helicóptero. Sua fuselagem reluzia, ainda que um tanto fosca pela oxidação, ao sol do fim da tarde. Trouxe o foco do olhar para material transparente da vigia, ali estava. Levou as mão até tocar a superfície e desenhou com o dedo a longa fissura no vidro, uma rachadura que quase abria uma fenda para o exterior. “Poderia ter nos matado”. Novamente a cena se repetiu com realismo perturbador. Alyena dentro da sala principal de Stella Pax com aquela janela imensa. Eles dentro do veículo. Reviveu aquele olhar, como se ela estivesse fora de si. “E estava”, resumiu. Em seguida as pancadas contra a grande janela. Alyena de algum modo se integrara a Stella Pax e controlava tudo, inclusive a nave em que estavam. Enlouquecida, fez com que se chocassem várias vezes. O vidro pronta do veículo começo a ceder e a fissura formou-se rápida na frente deles. Em pouco tempo haveria descompressão. Foi então que algo aconteceu… O sangue no peito de Alyena, as explosões… Tudo foi muito rápido em seguida…
Porque estava lembrando disto agora, recriminou-se com severidade. Era algo que não fazia mais parte da realidade dela, nem da de Steno e nem de nenhum outro.
Um pensamento trouxe a resposta: “Foi Dot-Dot.”
Naquele dia recebera uma mensagem curiosa pelo terminal escrito do computador:

“Querida Demini, tenho todas as respostas para o que procura.”
“Esteja neste terminal às cinco horas e lhe revelarei tudo”
“Dot-Dot”

Respostas para todas as perguntas… Intrigou-se a jovem.
Dot-Dot…
Dot-Dot foi seu amigo durante anos de incursões subversivas pela Rede. Foi seu cúmplice e seu treinador em todos os simuladores de vôo e em todos os truques para controlar computadores à distância. Dot-Dot foi quem praticamente a salvou da morte a bordo de Stella Pax, quando estava sendo acuada pelos andróides de segurança. Dot-Dot, enfim, era Oscar Blankenburg, o velhinho marido de Catarina e que teve um final trágico que ela mesma testemunhou. Foi isto o que disparou todas as lembranças do passado, que fez tudo voltar.
“Mas quem seria agora? Um impostor, obviamente. Mas com que intento?”
Ela viera até ali no horário marcado para descobrir.
Num dos cantos do terminal o pequeno marcador digital informava “17:00h”, Demini aguardou.
Súbito a tela se tornou preta como antigamente e um cursor em verde luminoso piscou alinhado à esquerda:

“Olá, Demini”
“Está aí”
“?”

“Estou”
“Que revelações você tem para mim”
“?”

“Ahh!”
“Curiosa você está, não”
“?”

“sem brincadeiras, quem é você e o que quer?”

“Não se exalte, querida, tenho informações importantíssimas para você”
“e para seu marido também”

“Diga, então. Estou à disposição.”

“Não tão rápido.”
“Estou com problemas de sinal e o assunto é longo.”

“Diga ao menos de que se trata. Qual assunto.”

“trata-se das suas últimas pesquisas na Rede”
“Sim, eu venho acompanhado você”
“Com interesse”

“Você vem me vigiando?”
“estou ficando irritada”
“Não sabe que posso localizá-lo?”

“Não se irrite”
“O que tenho para você é de seu total interesse”
“Façamos o seguinte: volte a este terminal às 21:00h”

“Impossível, tenho reunião neste horário”

“Tenho certeza de que o que eu tenho para lhe dizer é muito mais importante”
“Saia mais cedo”
“Neste horário meu sinal é mais firme”

“Deixemos para amanhã, na mesma hora então”

“Amanhã impossível”
“Hoje”
“Imagine o que você mais deseja”
“e que isto possa ser colocado ao seu alcance”
“imagine como seu marido iria gostar”
“Aguardo você às 21:00h”
“Dot-Dot”