segunda-feira, 22 de junho de 2015

Capítulo 36 - Linhas do Destino

Arte ilustrativa - Chegada do barco em São Paulo.
Novos desafios para os protagonistas.  

“Súbito, uma nova passagem os lançou em mais um trajeto aéreo. O vento frio obrigou os tripulantes a procurarem agasalhos. A paisagem agora apresentava-se mais sombria. O céu ainda mais nublado trovejava em clarões no meio da massa de nuvens. Nestes momentos de luz, o horizonte podia ser divisado: compunha-se de uma infinidade de edifícios. Eram enormes e carcomidos. Avenidas lampejavam no meio deles a cada centelha e riscavam longas linhas, interceptadas ortogonalmente por outras tantas. A chuva veio dar contra a proa do veículo, mas limitava-se a ondas sucessivas, entremeadas de lacunas de estio. Não houve necessidade de abrigar-se na cabine. Os trilhos elevavam-se sobremaneira no trecho que percorriam, e daquele ponto de vista privilegiado, puderam constatar que o horizonte de prédios estendia-se para muito longe. A impressão que tiveram foi a de terem penetrado em uma cidade colossal. Os minutos foram passando e a densidade das construções continuava a repetir-se e assomar numa profusão sem fim. Não havia mais horizonte que não se definisse pelo ziguezaguear vertical dos arranha-céus.

“Era extensamente maior que todas as demais cidades por onde passaram. Intuíram que aquela fora outrora certamente uma das maiores do mundo.

Havia vida em suas entranhas, constataram com apreensão.

Avistaram pontos de luz provinda de fogo. Havia com certeza gente caminhando por aquelas vias tenebrosas. Sentiram o medo novamente aflorar-lhes à pele.

Logo passaram por outra imensa estação. Esta jazia na escuridão e ninguém sugeriu que se reduzisse a velocidade. Passaram rapidamente por ela e novo declínio os pôs ao nível das ruas. Os relâmpagos continuavam a lançar luz sobre as miríades de ruas e avenidas, revelando-as em alto contraste pelo reflexo da água que as cobria. Sentia-se também muita eletricidade no ar. Quase podia-se ouvi-la estalar a cada movimento. Em uma curva, puderam perceber um lugar ao longe onde os raios pareciam concentrar-se. Dançavam em consecutivos lampejos. Sobressaía-se em forma de abóbada na penumbra, adensada pela garoa fina.


– Estamos em São Paulo. – observou Demini.”

Trecho de: Jorge Deichmann. “Alyena.” Disponível na Amazon





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